síndrome da boazinha
Eu tenho o péssimo hábito de querer agradar todo mundo a minha volta. De forma que sempre me coloquei e aceitei situações que se eu resolvesse escrever, viraria o manual do desconforto. É mais forte do que eu - quando vejo, ja to dizendo sim quando queria dizer não, emprestando dinheiro que nem tenho, comendo coisas que não gosto, indo em lugares que nem queria e perdoando além do que devia. Numa dessas, fui atropelada, me levantei, sorri e disse que tava tudo bem.
Não estava tudo bem.
Assim, desse jeitinho, mais passiva que planta artificial de escritório, quase que decorativa, fui me montando como pessoa e ao longos dos anos, me desmontando como indivíduo.
Acontece que ultimamente eu tenho percebido que quanto mais eu tento agradar alguém - mesmo quando a vontade é de mandar pra casa do cacete - mais eu me distancio de quem eu sou, e pra ser bem sincera, essa mania de tentar me encaixar pra caber, mesmo não cabendo, ficando bem pequenininha, quase irreconhecível, tem sido tão exaustivo quanto o incômodo que eu acho que causo quando digo não, além de me soar um pouco brega depois dos trinta.
E eu ja não posso e nem quero mais me responsabilizar pelas expectativas que as pessoas criaram de como tenho que agir, ao mesmo tempo que também não quero mais me sentir culpada de como o outro vai se sentir por eu não suprir essas expectativas . E o eu nessa história, vai ter espaço quando? Tenho percebido que eu me frustro mais na minha incapacidade de desagradar, do que na audácia de quem tem de pedir, afinal de contas, é impossível o outro saber, se a gente não verbalizar.
- Como assim, tu, uma mulher que paga tuas contas, mudou de país e mora sozinha, aprendeu uma língua nova depois dos 26 e mudou de carreira depois dos 30, ainda não consegue dizer simplesmente… não? - A conta não fecha, mas não adianta, no Brasil ou na Alemanha, com 26 ou 30, viajada ou esperando o trem no horário de pico na Central do Brasil, velhos hábitos não mudam! Haja terapia!
Conversando com amigas, a gente se deu conta que talvez esse seja um sentimento majoritariamente feminino.
“Negar, pra mim, é uma forma de descuido com o outro" — disse uma das meninas, enquanto a gente tentava identificar o que fazia a gente assim, meio torta das ideias. Isso me fez pensar que o cuidar é intrínseco à nossa criação e nos torna quase que uma máquina programada para dizer sim, porque Deus o livre ser uma decepção para alguém!
Fomos socializadas dessa forma: avós que cuidam de suas filhas, que cuidam de suas filhas que cuidam de suas mães e avós, amigas que cuidam das amigas, e assim vai, sendo quase 7% da população brasileira registrada sem o nome do genitor. Quanto mais a gente cuida, leia-se, diz sim/aceita tudo, mesmo não tendo tempo, disposição, saúde ou vontade, mais sumimos dentro de nós, e o ciclo não para, porque afinal, quem cuida da gente, se não a gente mesmo?
Desde então venho tentando impor limites no que acho que devo ou não acolher como minha vontade ou vontade do outro, até porque essa síndrome de boazinha que quesempredizsim já não combina mais comigo e eu já nem tenho mais energia para os sorrisinhos amarelos. Cansei de dar ouvidos pra voz na minha cabeça que insiste em me dizer que fazer mais o que quero, do que o que alguém precisa, me torna uma pessoa má.
Aceitar ser a vilã na história de alguém, mesmo que isso signifique encerrar ciclos e cuidar de mim, dos meus sentimentos e de como me sinto, não me parece tão errado.
Descobertas da semana:
Ou redescobertas, pra ser mais exata.
Decidi, depois de muito tempo, rever Sex and the City — depois de vinte e seis anos do lançamento da série, agora, aos meus 30.
Pra falar a verdade, lembro muito bem de chegar da escola, lá pelos meus 12 anos, ligar a TV a cabo — agora não sei bem se era Multishow ou HBO — e procurar na programação algum episódio da série. Até hoje não entendo muito bem o que me fazia ficar fascinada/obcecada/ansiosa para assistir, naquela idade, uma série que só aos 30 eu realmente fui me identificar. Mas eu ficava — e já achava a Carrie muito besta por Mr. Big.
Acontece que, como já disse acima, velhos hábitos não mudam, e novamente, depois de muito tempo, estou fascinada/obcecada/ansiosa por cada episódio e, como toda obsessão que eu crio, preciso falar sobre. Em breve, vou.
Não quero me estender, mas assistam, por favor, e comentem comigo!
Obrigada, obrigada e obrigada de todo coração pra quem leu até o final e se você leu, comenta uma florzinha ou algo legal - nem precisa ser tão legal assim - pra eu saber que tu tava por aqui. 🌹
Até mais.